domingo, 18 de março de 2012

Versos à condição humana.

No mais detalhado fugaz ser,
O ridículo da palavra conter,
Do medo de sentimento inacabado,
Do medo do idiota falhado.


Porque lembro-te, todos somos idiotas,
Porque lembro-te, de tudo retiramos risotas,
Mas miseráveis seres inglórios,
Sem escrúpulos nem glórias, irrisórias.


O que passa e não passa enfim,
Relembro-te condição, que tudo tem um fim,
Relembro-te condição, o escárnio da humilhação,
Porque somos todos de um outrora, prostrados agora, na desilusão.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Desequilíbrios.

    Saber-se-ia o limite?
  Evocando algo, matematicamente falando, racionalmente falando, cerebralmente falando, dir-se-ia, se correcto português , limite pressupõe o comportamento de uma função f(x), à medida que x se aproxima de um determinado valor. Designação desapossada, surrealmente acreditada, estupidamente motejada! Como aquando dos ensinamentos precoces, como aquando de tudo e de coisa nenhuma, nos estados fantasmáticos de uma vida, a problemática presenteia-se. Mas a resolução não chega, nunca chega. Porque tudo padece de um comportamento.
  O comportamento subjacente ao ser humano, ao limite matemático da situação, digo, da função. Como, se nunca adquirido o conhecimento? Como, se nunca pensado, imaginado, ou reflectido e raciocinado? Como, se deparado com tão ténue e débil limite?
  Não há como suprimir tão subtil enleio, dizem. Justo o suficiente para tão devota sociedade. Aquela devoção, que faz suar qualquer ser inteligente... Mas absolutamente ridicularizável. Porque não há sentimento sem razão.
 Sentimento com razão. Torna-se demasiado e escrupulosamente pensado, como as geniais intemperanças mundanas de séculos que remontaram toda uma inteligência mental até ao presente. Demasiado por se saber, por se ser tão refutável e lógico no limite desequilibrado.
  Desequilibrado reverbera o autêntico ser.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O "saber".

Saber-se ser no "saber",
O que é ter ou viver,
O que não é ter ou viver,
O que é ilustre, distinto,
O que é desprezível e miserável,
De uma história de amor,
De uma pena de vida frívola,
O "saber" de todo um pensar acabado, enfadado,
Tão inútil e ridículo como um dito passado,
Porque se "sabe", se conhece,
Se sobrepõe, se é,
Como um leviano fim,
De mim, de outrem,
De tudo o que se "sabe",
Porque "saber" não é poder, nem vencer,
É perder.

domingo, 3 de abril de 2011

O relembrar do medo.

  Relembrar-te-ás da diáfana denominação do medo, do esgar de um grito húmido e fétido. Relembrar-te-ás do sarcasmo ludíbrio desprezando a ânsia da morte. Da mágica sedução aparente, pois do sufoco sufocado pelo osso esqueléctico do paradoxismo, morre a escuridão. Relembrar-te-ás do passo apressado da passadeira sangrenta animal e de todo aquele espectáculo frívolo e volúvel que apenas nos iludirá a ficções persuasivas de quietude. Remendar-se-ia a boca pálida e purpurear-se-ia o grémio voluptuoso. E relembras-te-ias do sacríficio arrebatador do medo.
  A obstipação, a exaustão, o degradado exagero, a magnitude, o sarcófago, a penitência a actos libidinosos, o caos, a destruição, a sensatez inabordável e, por fim, o derradeiro desfecho da lâmina na carne.
  Relembrar-te-ás então do medo de não ter nada, do medo de ter tudo. Do medo que sonha prazeres com prazeres e com prazeres sonhados. Que se lhe não dá a pena perdida no tempo crucialmente moldada ao corpo esfaqueado de excitação.
  Relembras-te-ias do medo da perda da alma erudita.

  Que quereis, oh Medo?
  Que depois de postergares por longes mundos urdidos,
  Fruistes tu de condenar,
  Os inimizados corpos perdidos?




  Por Evd.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poesia.

Hoje, neste dia, 
Quebrados dos largos da solidão,
Grandes nomes se prostram nos livros,
Nas notas postas sobre Lisboa,
Sobre A Brasileira, traiçoeira de anos,
Como a flor que espanta.

Nem se sabia, desconhecida,
A marca temporal de intensas vidas,
Como Vahía ou Vaz, 
O Castelo, Nogueira,
Bela Lobo no jaz,
Mundanos, para lá.

Vigência de séculos,
Sumptuosas estrofes e rimas,
De um ímpeto e de uma veemência, que gela,
Sem piedade, mediocridade,
Da não estoicidade,
De ti.

Ainda no Dia Mundial da Poesia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Lembrança.

  Num outrora, num antigamente, numa madrugada ou num outro tempo, velho ou subsistente passado, na mais contraditória memória, irrisória, há sentido. Sentido franco, "O Amor em Tempos de Cólera", O amor, nos outros "antigamentes". Qual sentido, como sentido... Quando o presente é fácil, manobrável, massacrável, efémero, tão breve... Sem luta, sem promessas, sem vontades, com "vontades", opiniões e difamações, conclusões de conclusões. Porque hoje eles não o são, amantes. Verdadeiramente amantes, como antes, na cólera. Sem cólera, sem antigamentes, amantes fodidos por gentes o são, como ridículos. E motivos para esgares, com direito a tragédia...
  Saudade de uma lembrança fausta, farta, com cólera. Saudade da lembrança dele, em "O Amor em Tempos de Cólera", saudade de nem que sem anéis, sem dinheiro ou bens. 
  Lembrança da minha ingénua infância, pobre e deserdada infância.
 Lembrança do não lembrar, do não querer, mas querer muito mais que o não querer que a lembrança volte de novo para mim.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Carta para a minha Mãe.

Angola, 17 de Maio de 2014

  Querida Mãe,

  O tempo de regresso vai longínquo e a Terra Mãe cada vez mais lembrada. Nas encolerizadas primeiras 12 horas do dia, tudo se passa e tudo já se passou neste pequeno grande mundo, onde só o triunfo é oriundo da riqueza suja. A falta de um país... A falta de um país que se instala num não país Mãe. Se estivesses aqui, compreenderias que mesmo um muito pouco país, é sempre melhor que um não país.
  Havias de te orgulhar da tua filha Mãe, que aqui, a pobreza torna-nos ricos. E temo ficar rica, desprovida de anseios opulentos, de egoísmos volúveis e de amores insofríveis, como tu Mãe. O Pai ir-se-ia também orgulhar de mim, a saudade de ambos preenche amargamente os meus dias e a dificuldade deste povo torna o ser num ser pleno.
  Na manhã, às 8 horas dói-me a alma no trânsito interminável, dói-me a visão fatigada da fadiga vulgarizada. Às 21 horas dói-me o peito apertado do ar pesado e insuportavelmente irrespirável dos fumos e dos gases, e os sonhos... Os sonhos que se arrancam da consciência e voam até aos sorrisos do Pai e aos teus jantares do antigamente. De um antigamente tão devaneador e irreal no momento presente.
  Acolá nos meus lençóis acham-se três horas de inconsciência, para amanhã ter dez horas de consciência perturbada e conturbada. Escrever-te-ei para a semana, talvez. Com o tempo de arrefecer o corpo em água morna, que o frio é escasso e quente, abrasador.
  Um beijo com saudades do outro mundo, daquele brilhante, da vossa filha,

  Inês

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A mulher do antigamente.

Outrora no buscar de um rasgo temporal,
Contratempos obsoletos na vida da mulher lívida,
Pois que a liberdade corrompida devida,
Se acha o infausto final.

O término irracional da libertina mulher,
Que cedo termina o ser da sua índole à "cobiça",
Sozinha, escandalosa e sem justiça,
Insípida e nem com gracejo sequer.

Com dote visível logrado,
Assim temem os que foram mas já não o são,
Da sua pura devassa criação,
Do seu fim sentenciado.

Mulher do antigamente destino,
Prostra sua alma, seu desassombro,
Desapossada de ensombro,
Como o confiado adulterino.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Primeiro.

  As pessoas ressentem quando se questiona, quando a questão predomina e insiste em predominar. A primeira vez. E a segunda? Já não importa se à primeira foi questionada. Primeiro julga-se. Primeiro sentenceia-se. Primeiro o desdém. Primeiro a vaidade. Primeiro sempre nós, pois terá sido desta matéria que fomos feitos e refeitos, e moldados para a boa e "sólida" primeira sociedade, que já não deveria ser primeira, mas vigésima ou centésima, acompanhada talvez de uma evolução cortês e delicada, deliciada. Mas claro, ainda antes de nós, primeiro a política, políticos, a infame vara, sinónimos de. E primeiro o sexo, muito primeiro o sexo, intensamente e repetidamente, primeiro o sexo. Porque primeiro, estão os egoístas e os sacanas, como os políticos, ou os inspectores de trabalho, ou simplesmente os que se acham primeiramente acima dos outros. Primeiro o ordenado do fundo desemprego, por favor, primeiro o fundo desemprego, ordenado é para quem trabalha. Por motivos alheios e desusados, motivos dissimulados e dignos de um "Era uma vez...", o primeiro e primeira, primeiros e primeiras, o primeiramente, primário, primários e primárias... Surgem como uma colmatação do inconsciente/consciente reles e funesto.
  Mas claro e claramente, O primeiro, é arrebatador, extasiante e enlevado. Este é o 1.º.