domingo, 30 de janeiro de 2011

Carta para a minha Mãe.

Angola, 17 de Maio de 2014

  Querida Mãe,

  O tempo de regresso vai longínquo e a Terra Mãe cada vez mais lembrada. Nas encolerizadas primeiras 12 horas do dia, tudo se passa e tudo já se passou neste pequeno grande mundo, onde só o triunfo é oriundo da riqueza suja. A falta de um país... A falta de um país que se instala num não país Mãe. Se estivesses aqui, compreenderias que mesmo um muito pouco país, é sempre melhor que um não país.
  Havias de te orgulhar da tua filha Mãe, que aqui, a pobreza torna-nos ricos. E temo ficar rica, desprovida de anseios opulentos, de egoísmos volúveis e de amores insofríveis, como tu Mãe. O Pai ir-se-ia também orgulhar de mim, a saudade de ambos preenche amargamente os meus dias e a dificuldade deste povo torna o ser num ser pleno.
  Na manhã, às 8 horas dói-me a alma no trânsito interminável, dói-me a visão fatigada da fadiga vulgarizada. Às 21 horas dói-me o peito apertado do ar pesado e insuportavelmente irrespirável dos fumos e dos gases, e os sonhos... Os sonhos que se arrancam da consciência e voam até aos sorrisos do Pai e aos teus jantares do antigamente. De um antigamente tão devaneador e irreal no momento presente.
  Acolá nos meus lençóis acham-se três horas de inconsciência, para amanhã ter dez horas de consciência perturbada e conturbada. Escrever-te-ei para a semana, talvez. Com o tempo de arrefecer o corpo em água morna, que o frio é escasso e quente, abrasador.
  Um beijo com saudades do outro mundo, daquele brilhante, da vossa filha,

  Inês

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto mt do teu blog.

ines disse...

Mt bom Inês, parabens =)